A Misericórdia Que Vem Antes Do Juizo


Nesses últimos dias me peguei pensando sobre o conceito de justiça e o quanto a injustiça gera em nós uma indignação profunda. As vezes a resposta a essa injustiça pode ser silenciosa e corrosiva, as vezes agressiva e rebelde e na pior das hipóteses gera uma resposta de indiferença, negação e egoísmo que é o resultado de um sentimento de impotência e descrença.

Como não se indignar em ver pessoas boas sofrendo injustamente, enquanto os corruptos parecem se fortalecer e enriquecer? Como não se compadecer ao ver uma criança sendo morta brutalmente, vitima de um roubo e fruto da ganância cega de alguns? Como não se revoltar com a manipulação dos que tem o poder, seja político, seja econômico, seja religioso, seja físico, massacrando as massas para o seu próprio enriquecimento, bem estar ou prazer?

A revolta diante de tantas situações injustas levam muitos a pensar que Deus não existe ou que Ele é injusto porque permite com que coisas terríveis como essas aconteçam aqui na Terra. Isso sem falar nas pequenas "injustiças" que todos nós sofremos quando vivemos situações dificeis que achamos que não merecíamos passar.

Antes de jogar toda a culpa, de toda injustiça terrena, em Deus, precisamos parar para refletir sobre algumas questões.

Você já parou pra pensar que o senso de injustiça em nós só existe porque também existe dentro de nós um conceito de justiça ali escrito?! Esse senso de justiça vem de Deus, porque um dos atributos Dele é ser justo (Salmo 11:7) e Ele fez questão de colocar essa sede de justiça dentro dos nossos corações. Quem dita a justiça que há em nós é a lei que habita em nós. E essa lei dita o que é certo e o que é errado. Mas, antes dessa lei moral que habita em nós, Deus nos deu uma outra lei, que é irrevogável, a lei da liberdade de escolha, ou o tão famoso, livre arbitrio. Com essa lei temos o direito de quebrar a lei moral, mesmo que Deus não aprove o mal que escolhemos. E toda a escolha que fazemos não tem consequências apenas individuais, mas afetam as pessoas, o mundo ao nosso redor. O caos que vivemos hoje não é culpa de Deus, mas de milhares e milhares de pessoas que continuam escolhendo errado, destruindo assim o mundo ao seu redor.

Existe um outro "senso de justiça" em nós que é mascarado. Este tem raiz no orgulho e no egocentrismo. Achamos que merecemos as coisas boas mais do que os outros e nos revoltamos quando nos encontramos em falta ou quando passamos por algumas lutas, pois achamos que outros que não merecem estão melhores que nós, os que não "merecem" passar por lutas. A real é que ninguém é melhor ou pior do que ninguém, todos estão sujeitos as mesmas coisas, debaixo do sol.

Deus ama a justiça, mas a justiça Dele é diferente da nossa. A justiça de Deus não é imposta, não é cega, não é dura como a nossa. Ela é longânima, ela espera o arrependimento humano, ela sempre dá uma segunda chance, ela vê todos os fatores de uma mesma situação. Se Deus viesse com justiça antes da misericórdia, não haveria um ser humano sequer que se salvaria. Isso porque Ele não apenas olha as atitudes externas, mas Ele pesa as intenções do coração e as reais motivações por trás de cada ação, sejam elas boas ou ruins.

A Bíblia fala que aos olhos de Deus não há um justo sequer, não há um que se salve pelas suas obras (Rm 3:10, Ec 7:20). E diante de nossa maior injustiça, Deus enviou Seu filho JESUS, sem pecado algum, para mostrar o maior ato de misericórdia já feito em toda a história do universo. Misericórdia significa não recebermos o mal que merecemos pelos nossos próprios atos de injustiça. Ou seja, porque Jesus, sendo justo, morreu por nossos pecados e transgressões, Ele pagou o preço por nossa injustiça. E porque Ele sendo justo morreu pela injustiça de muitos, uma nova lei se estabeleceu para todos aqueles que creem: a lei da graça. Em Jesus, recebemos o bem que não merecemos. Nele temos vida eterna e reconciliação com Deus. Nele somos livres do poder do pecado, que habitava em nós.

Pela lei da graça, o maior ato de misericórdia encobriu todos os atos de injustiça para todos aqueles que creem em Jesus e no seu sacrifício ali na cruz. E quando entendemos a graça e a misericórdia de Deus somos radicalmente transformados, pra sempre. Entendemos que não merecíamos nada, mas que Nele temos tudo. E o entendimento da graça faz com que sejamos mais misericordiosos com o nosso próximo também.

Como é bom saber que antes de Deus trazer o juizo, ou o julgamento (que um dia certamente virá!), Ele abriu primeiro o caminho da misericórdia e do perdão. Nós condenamos os que erram, sem segunda chance, mas Deus, através de Jesus, ama todos nós pecadores e sempre nos dá uma nova chance para nos arrependermos e recomeçarmos nosso caminho.

Para Deus, a raiz da justiça, da liberdade, da misericórdia e da graça é o AMOR. Não há lei maior que a lei do amor. E o amor genuíno encobre todas as transgressões e muda o mais duro e rebelde coração.

A misericórdia de Deus vem antes do juízo. Deus é justo e Ele trará justiça sobre a Terra. Inclusive, muitos não vão entender a justiça que há de ser estabelecida por Ele, quando Jesus voltar. Mas, antes do julgamento, Ele abriu Seus braços de amor, graça e misericórdia, através de Jesus, sua morte na cruz e seu exemplo de vida, como homem que nunca pecou.

Falar sobre justiça ou injustiça parece ser algo externo a nós, não parece? A justiça ou injustiça de Deus, a injustiça dos homens... Mas, a verdade é que a justiça começa em nós, aqueles que entendem seu papel na sociedade, na família e que não jogam toda a responsabilidade do caos nos outros. Como filhos de Deus precisamos mostrar a justiça e a misericórdia do Pai através de nossas vidas.

Qual então será o nosso papel como agentes de justiça e como podemos combater a injustiça, como filhos de Deus?

1. Julgue-se primeiro a si mesmo antes de julgar seu próximo.
Jesus mesmo disse que não deveríamos julgar o nosso próximo porque nós também temos falhas e já fomos perdoados por Ele (Mateus 7:1-5). Antes de julgar alguém devemos primeiro fazer uma auto-análise sincera.
Isso nos faz entender que também temos falhas e pecados, como todas as pessoas que julgamos. Quando entendemos essa real condição passamos a ser menos duros no julgamento com o nosso próximo. Como podemos julgar alguém se nós mesmos temos tantas falhas?
Será que a nossa balança tem sido mais dura com nosso próximo do que conosco mesmo? Normalmente é! Pense nisso!

2. Deixe a misericórdia triunfar. Atos de injustiça só são combatidos, de forma eficaz, com atos de misericórdia e amor.
Ser misericordioso significa perdoar o mal que um dia recebemos. Assim como Deus nos perdoou, devemos também perdoar os outros. E perdoar não significa justificar o erro do alguém. Mas, significa dar uma nova chance, porque sempre recebemos de Deus uma nova chance para tentar fazer diferente.
O perdão não apenas libera quem está sendo perdoado, mas é cura e vida e liberdade para quem perdoa.

3. Comece sendo justo nas pequenas coisas.
Se seguirmos o segundo mandamento, que é amar ao próximo como a nós mesmos, certamente traremos justiça onde formos, pois não vamos fazer com outros o que não gostaríamos que fizessem com a gente. Mostramos a justiça de Deus também quando agimos com amor com os pequenos, aqueles que não podem nos dar nada em troca (Isaías 58). Não existe justiça no egocentrismo!

4. Ore e clame para que a justiça de Deus prevaleça (Lucas 18:1-8). Jesus é o justo juiz!

Que a misericórdia que habita em nós possa vir antes de qualquer julgamento. E que Ele nos dê uma visão mais ampla da vida, das pessoas, da sociedade que vivemos, de nós mesmos. Que possamos ter olhos bons, olhos de misericórdia e amor. Porque só ai traremos a real justiça, aquela que vem de Deus, pro mundo que vivemos.

"Bem aventurados os que tem fome e sede de justiça porque serão fartos!" Mateus 5:6

Com amor 

Nani

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